Não é com todas as palavras, mas a Petrobras reconhece que não está perfurando novos poços no Rio Grande do Norte.
Em resposta enviada pela assessoria de imprensa, a Petrobras justifica que a redução no número de sondas de perfuração em Mossoró e região se deve à falta de demanda, ou seja, à inexistência de novos poços para serem perfurados. "A Companhia esclarece que as sondas são adequadas às características da área e do poço a ser perfurado e, por isso, movimentam-se entre Estados, de acordo com as demandas", diz a nota enviada pela Petrobras em explicação à debandada de sondas.
Sem novos poços, a tendência é que a produção de petróleo e gás continue caindo no Rio Grande do Norte.
Somente entre 2004 e 2010, a queda na produção de petróleo foi de 23 mil barris dia (mais de 27%), enquanto que a produção de gás foi reduzida a menos da metade, com encolhimento de 1.289 metros cúbicos por dia (57%).
A Petrobras deixou as novas descobertas de lado e aposta na política de recuperação dos campos maduros, através da injeção de vapor e água.
Na apresentação dos resultados do ano passado e previsão de investimentos para este ano realizada em março, o gerente geral de Exploração e Produção da Petrobras RN-CE, Joelson Falcão Mendes, declarou que o intuito é recuperar e estabilizar a produção nos próximos anos, através de investimentos em projetos de aplicação de vapor e água.
Segundo Joelson, inicialmente o objetivo é aumentar a produção em 20 mil barris/dia até 2014, saltando da média diária de 62 mil barris em 2010 para 82 mil barris em 2014.
E se tudo caminhar bem, muito bem mesmo, a Petrobras diz que voltará a produzir 100 mil barris/dia, como já ocorrera nos anos 90.
A política da Petrobras é contestada por Pedro Idalino, que justifica: a revitalização dos poços gera menos postos de trabalho.
Para o sindicalista, a empresa deveria investir na exploração de novos poços, na descoberta de novas jazidas de petróleo e gás. "O investimento em exploração gera emprego já a partir dos estudos sísmicos, enquanto que na revitalização a contratação de mão de obra é reduzida e passageira", explica Pedro Idalino.
Cadeia produtiva foca novos mercados
O recuo dos investimentos na perfuração de novos poços está levando as empresas que formam a cadeia produtiva de petróleo e gás a buscar novos mercados além-fronteiras do Rio Grande do Norte.
O presidente da Redepetro-RN, Doryan Hilton Filgueira Bezerra, destaca que as 103 empresas que fazem parte da entidade e empregam cerca de 2.500 trabalhadores estão se qualificando para competir e conquistar novas áreas de atuação.
Doryan informa que empresas de pequeno porte de Mossoró e região já atuam em Estados como o Ceará, Bahia, Sergipe e até no Espírito Santo. "Na hora da crise tem que buscar novos espaços", ressalta.
Doryan conta que a Petrobras diminuiu o ritmo de investimentos na exploração de petróleo no Rio Grande do Norte. "Uma atividade econômica que envolve vários setores", observa.
Gerente de uma empresa terceirizada da Petrobras, Pedro Batista explica que o baixo investimento em perfuração de poços prejudica as empresas que trabalham com produção. "Se não tem sonda, não tem exploração e não tem serviço para ser executado", adverte.
A esperança do setor se volta agora para a exploração em águas profundas.
Doryan informa que a Petrobras arrematou lotes para perfurar nos mares do Rio Grande do Norte e Ceará. "Está sendo esperado um navio-sonda e a previsão é começar a perfurar ainda neste ano", diz, em tom esperançoso.
Enquanto isso, várias empresas enfrentam dificuldades para finalizar os contratos com a Petrobras.
Existe caso em que a empresa Norserg entregou o contrato e foi embora sem pagar aos trabalhadores (que brigam até hoje na Justiça para receber os seus direitos).
Outras empresas estão pedindo aditivos, enquanto que a Plena está com a sua folha de pessoal sendo paga pela Petrobras.
Entretanto, segundo a Petrobras, as contratadas têm conseguido executar os serviços conforme previsto nos instrumentos contratuais. "Alguns casos, como o da Plena, são uma exceção, considerando a grande quantidade de prestadores de serviço", defende-se.
FONTE: JORNAL DE FATO